terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

CHOQUE TECNOLÓGICO


Olhem bem para este objecto!
Pois é, uma verdadeira revolução tecnológica: UM TAMAGOTCHI!
Decididamente nunca hei-de compreender o fenómeno das modas. Há uns bons 10 anos um japonês (Aki Maita) andava a procura de algo de certeza mais útil e deu com um microprocessador (ou um jogo electrónico) completamente ultrapassado, tipo anos 70/80. No seu cérebro de engenheiro com fins lucrativos apareceu a palavra EUREKA (em japonês claro). Juntou mais uns componentes, um visor de LCD monocromático que devia ser de algum jogo velho e criou um amigo virtual em forma de ovo. Resultado, mega sucesso mundial e lucros fabulosos. A própria produtora original dos componentes nem deve ter acreditado no milagre. Voltar a ter lucros com componentes obsoletos, mas que grande negócio!
Isso foi há 10 anos!
Então não é que a canalhada anda toda com essa porcaria novamente? Agora em formato PLUS, TAMAGOTCHI PLUS. E que é isso do PLUS perguntarão os leitores? É nem mais nem menos que INFRAVERMELHOS!
Pois é, alta tecnologia!
E para que serve isso dos infravermelhos dirão vocês?
Antes, esses bichos virtuais mas realmente irritantes, com os seus bips a chamar pelos donos de cinco em cinco minutos, eram seres tristes e sós. Experimentavam uma efémera existência pautada pela solidão da espécie tendo interacções unicamente com humanos. Nasciam e morriam sem conhecerem os seus pares. As suas necessidades básicas, às quais devíamos estar atentos e prontamente responder, não incluíam nenhum acto de socialização e convívio, reduzindo assim a própria razão de suas existências ao manuseamento egoísta por parte dos seus donos. Mas já não é assim. Agora os TAMAGOTCHI podem interagir com os seus pares, tudo graças à inclusão dessa pequena lâmpada de infravermelhos. Os bichos já têm uma existência menos virtual, podem conviver com outros iguais a eles, apitam de contentes, apitam muito mais, são ainda mais irritantes e inoportunos.
Se tudo correr bem, esses pequenos seres, dentro de 10 anos, irão adoptar uma nova tecnologia emergente, o BLUETOOTH. Assim será quebrada a barreira visual e, quais videntes, poderão detectar a presença de outro ser da mesma espécie num raio de dez metros e apitar muito mais ainda.
Nem me vou debruçar sobre os efeitos psicológicos de um brinquedo onde se pode matar o protagonista só porque não tem o comportamento que nos agrada, mas o ressurgimento do mesmo pela mão das lojas chinesas deu-me uma ideia, sugerir um possível caminho pró nosso CHOQUE TECNOLÓGICO.
Porque não pegar numa tecnologia completamente obsoleta no mundo ocidental informatizado, dar-lhe um outro nome sonante qualquer, uma embalagem apelativa (temos uma indústria de polímeros muito desenvolvida, é fácil) e vender isso em lojas dos trezentos ou até nas feiras. Vou dar um exemplo.
Os direitos de produção do ZX SPECTRUM já devem ser quase de borla. Pegávamos nessa tecnologia, dávamos-lhe um pouco mais de RAM, um teclado em plástico duro (até podia ser reciclado), um ecrã de LCD monocromático (barato com 256X160 ponto) e fazíamos os portáteis baratos para os nossos meninos do primeiro ciclo, ainda mais baratos que os do MIT.
Outro exemplo, pegávamos na tecnologia dos relógios LED dos anos 70 (tipo casio e timex), dentro de um invólucro em forma de morango com as caras dos D’ZRT, patrocinado pela TVI e já está: pelo menos milhão e meio de relógios vendidos.
Digam lá se não tenho boas ideias?
E esse lixo convive sem complexos com os telemóveis 3G, as consolas de última geração e leitores de MP3 sofisticados !

Haja paciência!

Allez….

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