quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

The Wall 1990

Amigos leitores.

Como não sei muito bem o que fazer deste espaço, vou dedicar-me a partilhar experiências convosco. Coisas que vão acontecendo na minha vida (banal), que vou lendo, vendo, ouvindo etc.
A primeira que vou partilhar tem a ver com uma das minhas últimas aquisições. O DVD do concerto de Roger Waters em Berlim em 1990, o The Wall (sim esse dos Pink Floyd) ao vivo.
Para aqueles que ainda nem eram nascidos nesse ano aqui vai uma pitada de história.
Até Novembro de 1989 a Alemanha estava dividida em duas, a República Federal da Alemanha (RFA) a oeste e a República Democrática Alemã (RDA) a Leste. Ou seja, perceberam bem, eram dois países diferentes. A RFA era uma verdadeira democracia, patrocinada pelos USA, França e Inglaterra, um país com uma economia forte de onde vinham os BMWs, os Mercedes, Porsche etc. A outra era patrocinada pela URSS (União Soviética. Pois é, também já não existe) e apesar de ter a palavra "Democrática" no nome, era-o muito pouco. Esses dois países acabaram por se reunificar em 1990 tornando-se no país mais poderoso da Europa (no fundo a RFA já o era quase). A ironia da história é que, a seguir a segunda guerra mundial, a ideia dos vencedores tinha sido cortar a Alemanha em 4 partes para torná-la fraquinha. Numa lógica de dividir para reinar.
Mas voltando ao assunto de Berlim, até Novembro 89 a cidade estava divida em duas partes por um vergonhoso muro. Existia portanto um enclave ocidental no seio de uma meia Alemanha governada sob o grande véu comunista da União Soviética.
Em Novembro 1989 o muro da vergonha que dividia o povo alemão e no fundo o mundo inteiro acabou por cair pela vontade do povo, numa espécie de revolução pacífica.
Para festejar o primeiro aniversário da queda do muro e a reunificação da Alemanha, Roger Waters, antigo baixista e vocalista dos Pink Floyd decidiu trazer de volta ao palco a sua grande obra: THE WALL.
O espectáculo, único, foi um acontecimento mundial, com transmissão directa para todo o mundo. Estiveram presentes mais de meio milhão de almas e decorreu num espaço que, um ano antes, não era de ninguém. Pois foi, decorreu na terra de ninguém, naquela faixa que separava as duas partes da cidade. (Ver foto acima)
Para tornar o evento ainda mais mediático, Roger Waters convidou uma série de músicos e artistas famosos (na altura claro). Citando só alguns: Scorpions, Brian Adams, Cindy Lauper e mais uns quantos. Cada um ou uma interpretava um dos temas do Concept Álbum The Wall, dando algum colorido à coisa.
Na altura gravei o concerto em VHS e vi-o umas quantas vezes. Lembro-me bem de pormenores que foram eliminados deste DVD e que já o tinha sido da edição “oficial” em CD e VHS. Uma delas foi o concerto ser iniciado por um veterano da segunda guerra com um apito, dizendo que aquele apito, noutros tempos, teria servido para enviar os soldados para a batalha mas que naquele momento se destinava a fins bem mais pacíficos. O homem iniciava um espectáculo que era suposto celebrar o fim da ameaça da possível terceira guerra mundial que seria de certeza nuclear. Sim porque as duas principais potências da altura, os USA e a URSS, usavam esse muro como se fosse uma rede de pingue-pongue nos seus jogos de poder. Ingenuamente portanto, celebrávamos o fim do terror sem dar-mos conta que se preparava algo bem pior. Aproveito para lembrar que a primeira guerra do Golfo teve início a 16 de Janeiro de 1991, menos de um ano depois desse concerto. Essa guerra opôs o Sadam Hussein contra o Jorge Bush. Como é? Dirão os mais novos, isso foi há dois anos! Não puto, esse Bush era o Pai. Também era estúpido mas o Filho é pior tá descansado (ou vai rezando).
Voltando a Berlim, o concerto foi iniciado pelo veterano porque as receitas do mesmo reverteram para uma fundação qualquer que ajudava as vítimas de guerra. Nunca mais ouvi falar dessa fundação mas tudo bem.
Outra coisa de que me recordo foi de uma mega falha de som na prestação da Sinead O’Connor que agora aparece toda linda e afinada. Magias da pós-produção!
Aparte disso ainda tinha havido uns quantos incidentes mas foi isso que tornou aquilo único e é pena que, quando editam estas coisas, corrijam os erros. É que o que dá o saborzinho a autenticidade são essas fífias e gralhas.
Acabando, adorei reviver esse momento e recordar a forma intensa como vivi aquela transmissão da RTP. Fazem falta mais iniciativas destas...

Até um dia

1 comentário:

tito_c disse...

É sempre bom recordar a história de modo mais leve, de preferência por quem a viveu... Esse acontecimento, em particular, ocupa o espaço na nossa mente que ocupa o concerto. Quem não se lembra da imagem do muro de esferovite(?) a ser derrubado em plena actuação? São estas "pequenas" coisas que constroem a nossa memória individual e colectiva, assim como o Live Aid original há-de recordar sempre ao mundo "democrático" que se morria de fome em Àfrica, aos milhares. Mais eventos desta magnitude houvesse e talvez a consciência global se aproximasse mais da realidade.