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Encontrado num comentário no jornal SOL.pt
Miguel Cadilhe, Fernando Aguiar-Branco, Manuel Joaquim Dias Loureiro, José de Oliveira e Costa, Rui Manchete, Amílcar Theias, Daniel Sanches, Arlindo de Carvalho, Joaquim Coimbra. Todos destacados militantes do PSD. Quase todos ex-membros de governos de Portugal presididos por Cavaco Silva e Santana Lopes. Todos membros dos órgãos sociais do grupo BPN. Banco que apresenta, a 30 de Outubro de 2008, 700 milhões de euros de prejuízos.
Pergunta-se: Como é que o BPN, em 2007, apresentou resultados positivos 77 milhões de euros e, em 2006, de 86 milhões de euros? Porque foi neste banco que a Segurança Social depositou 500 milhões de euros? Porque foram desviados milhões e milhões de euros para um obscuro banco sedeado em Cabo Verde? Como pode o BPN manter anos a fio taxas de remuneração de depósitos bastante acima da concorrência? O que fazem várias obras de Arte no valor de milhões e milhões de euros nos cofres-fortes do banco? Porque se desprezaram avisos e denúncias sobre a eventual associação do BPN a branqueamento de capitais?
Pergunta-se ainda: Porque não se investigou o facto estranhíssimo de entre 1998 e 2003 o BPN ter sido auditado por três diferentes empresas: a Ernst & Young (1998), a Price Water House Coopers (1999/2000), a Deloitte & Touche (2001/2002)? Porque foram ignorados as reservas destas auditoras sobre as contas do BPN? E as suas chamadas de atenção para a excessiva concentração de créditos concedidos a empresas imobiliárias e com projectos em construção, algumas ligadas a accionistas do grupo? Ou os seus avisos sobre um conjunto de negócios não financeiros que iam desde oficinas de reparação automóvel, passando pela saúde, seguros, agro-alimentar, e até fundos de arte, cujo contributo para os resultados do banco era difícil de detectar? Tudo isto em 2002!!!...
O Banco de Portugal tem seis processos abertos e admite agora que as irregularidades remontam ao ano 2002. A Procuradoria-geral da República está a investigar o banco. Mas há pouco mais de 15 dias, Presidente da República, o governador do Banco de Portugal e o ministro das Finanças afirmavam a uma só voz que não tinham nenhuma indicação de que algum banco português estivesse em dificuldades. Porquê?
Os esquemas aqui resumidos eram do conhecimento de meio mundo. Que «mel» tinha este pequeno banco com uma gestão suspeita de vários crimes para juntar tantos ex-governantes e quase todos com a mesma proveniência? Até o actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme Oliveira Martins, por lá passou! Será que o poder político fechou os olhos porque o banco era a extensão financeira do PSD? E eles já seriam assim quando estavam no Governo?
Estranha-se também o silêncio dos banqueiros. Existe uma associação de banqueiros e um código de conduta da banca. Os banqueiros portugueses revêem-se nesta sucessão de vigarices e de crimes?
Todos sabemos onde é o lugar destes senhores. Uma investigação célere e exaustiva sobre estes e outros casos (recorde-se o Millennium-BCP) é urgente e obrigatória. Com as devidas consequências.
Tanto mais quanto Vítor Constâncio mostrou, mais uma vez, não merecer nem uma pequena fracção da fortuna que ganha por mês no Banco de Portugal. A porta de saída é o seu único caminho. Até para que não fique a pairar sobre os cidadãos a insustentável suspeita de que o regulador e fiscalizador da nossa actividade financeira está infestado de agentes coniventes com as falcatruas. Ou então de perfeitos incompetentes…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 7 de Novembro de 2008
O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.
"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos autodesalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e autodenominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor."